quarta-feira, novembro 02, 2005

Capitulo 10 - De regresso a casa

A Clara voava pelo trânsito, direitinha a casa! Haviam respostas ali para serem encontradas, ela sabia disso... No meio do metodicismo de David, haveria concerteza uma razão para o relógio de pulso, para o despertador, e mais ainda para aquele maldito relógio de parede!

Na mente dela chegavam ideias nubladas de momentos, de rituais de David, de pequeninas coisas que nunca tinha entendido perfeitamente e que no inebriar de sentimentos turbulentos acabavam por estar um pouco à parte.

Apercebia-se agora da mania de David de nunca se mostrar na rua em qualquer manifestação de carinho, de nunca lhe ter apresentado os pais, de fugir de reuniões sociais muitas vezes sugeridas com os seus presupostos colegas de trabalho.... de se encontrar sempre do lado oposto da camara...
A cada pensamente, cada facto, parecia mais claro que nada daquilo era um acidente, surgia a ideia definida de um plano meticulosamente escrito, de algo insidioso, negro, e acima de tudo com um fim bem definido... Só precisava de achar esse fim!
Surgia aquela raiva que se propaga pelo ar como o cheiro a uma trevoada... quando o ar fica abafado, e quente e a tempestade desaba em cima das pessoas desprevenidas. Como ela tinha sido desprevenida! Estava alí parada na rua, à mercê dos elementos, que lhe tinham enviado tantos sinais! Era a estupidez da sua conduta que a aborrecia agora, a facilidade com que se entregava, a velocidade com que os seus braços encontraram os do David e se deixou conduzir para aquele final...

Mas o final seria apenas quando ela quisesse! Perto da tempestade, ela escolhia enfrentar os elementos, apanhar com a chuva... se ficara alí até agora, não se afastaria sem saber o porquê!

Entrou directamente na garagem e correu escadas acima para o apartamento, mas com a mão nas chaves, acalmou-se subitamente... Nada de mais erros! Seria exactamente como nos filmes: com calma, prestar atenção a tudo... Havia falhas em todas as pessoas e no David também, concerteza.

Colocou calmamente a chave na porta que havia deixado aberta?! Sim, havia deixado aberta, mas estava fechada agora.... seria algum vizinho? Por outro lado, esquecer coincidências e pequenos pormenores tinha-a colocado ali, com a mão naquela chave, junto a uma porta que não devia estar fechada.

Rodou a chave sem fazer barulho e sem medo e mesmo ao abrir a porta, de relance viu o seu pai a afastar-se do relógio aberto!

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Foram uns tempos daqueles! daqueles em que parecemos esquecer-nos de tudo o que não sejam objectivos ilusórios e ficamos inebriados por novas realidades.... Mas o bom filho a casa torna... Afinal, a vida e feita de pequenos momentos, muitos desses passados a escrever algo!