quinta-feira, agosto 26, 2004

Capítulo 5 - 007, Licença para esperar

De dentro da sua mala retirou o frasco de comprimidos. Tinha há anos aderido às medicinas alternativas, em grande medida pela maior quantidade de controlo que tinha sobre a sua própria medicação do que na medicina tradicional em que o médico quase sempre decidia autocraticamente medicamentos e dosagens sem explicações de maior.
Tomou duas pílulas de valeriana e respirou fundo, pelo diafragma como lhe ensinara a psicóloga.

Sim, tinha tudo sobre controlo.

Sentou-se. Agora que pensava bem sobre o assunto, todo aquele sistema de entrega lhe parecia um perfeito disparate, fruto de uma mente sedenta de aventura e obviamente vítima de excessos televisivos.

Tinha-lhe feito a vontade porque lhe era perfeitamente indiferente como entregava a informação e recebia os seus honorários, desde que os recebesse, mas agora arrependia-se... Se não tivesse embarcado naquele espírito 007 talvez agora não estivesse na situação em que estava...

Que ridículo. Estava agora na estação, sem saber muito bem o que fazer porque o “seu contacto”, como insistira que lhe chamasse, se tinha deixado levar pela sua fantasia.

Francamente... Que ridículo!

Sim, admitia, o seu modus operandi podia ter semelhanças com o mítico James Bond. Adorava conquistar mulheres e perdia com alguma facilidade o interesse pelas mesmas depois de as conseguir, sendo quase o paradigma daquilo que muitos chamam “Donjuanismo”, uma espécie de doença alusiva ao comportamento do famoso Don Juan de Marco. Quando era mais novo tinha mesmo chegado a procurar ajuda profissional para o seu problema, mas hoje em dia procurava usá-lo em seu proveito, integrando-o na sua profissão.

Profissão... Negócio!

Seja como for, agora tinha um problema sério entre mãos. Tinha a informação e faltava-lhe uma parte do pagamento e executar a entrega. Nem sequer tinha muito bem a certeza daquilo que devia fazer... Ia-se embora? Mandava tudo às urtigas e ia para o Brasil com a sua já avultada fortuna pessoal? E se fosse atrás “do seu contacto”?... Na verdade, apetecia-lhe dizer umas coisinhas pouco simpáticas depois de ter sido deixado especado na estação. Que lata!

David era um rapaz metódico, organizado e ponderado e tinha grande orgulho nessa sua faceta.. Optou por esperar ali por mais notícias. Decidiria o que fazer depois.

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Repreendendo-o com o olhar, disse-lhe frontalmente que ele tinha escolhido o caminho mais fácil.
Ele sorriu maliciosamente.
“Estás apenas a provar um pouco do teu próprio veneno...” respondeu trocista.