Capítulo 2 - A dúvida
Foram segundos que se propagaram, pelo meio da surpresa tudo nela trabalhava mais rápido.
Guardou em fotografia a ausência de tudo o que a luz tocava: nenhum casaco pendurado no cabide à direita da porta; mais à frente, a secretáriaevidenciava a falta dos seus livrinhos de apontamentos, do outro lado, nenhum dos cd´s e também o computador havia desaparecido. Ao fundo do quarto, bem iluminado pelo túnel de luz, o fato intacto em cima da cama impecávelmente feito.
A ausência de todos os objectos de David revelava ainda mais a sua presença: tudo, excepto o que era dele, estava exactamente no mesmo sítio, impecávelmente limpo, geometricamente colocado.
Sempre se tinha admirado dessa característica do David, tão diferente da sua. Era metódico, orgaizado, conciso... tinha um espírito que estava sempre a programar, a fazer planos... Era, até certo ponto, manipulador. Costumava fitar aqueles olhos verdes, sem saber bem o que ele estava a pensar e ainda pior, o que ela devia pensar sobre isso. Aquela aura de mistério que tanto a tinha atraído, assustou-a pela primeira vez, naquele momento.
Olhou para a cama onde repousava o fato, preparado para sair, impecávelmente passado para um encontro a que faltaria.
Parou mais uma eternidade, medida em alguns segundos; não, , não tinha medo da presença de alguém, mas sim da ausência e do que descobriria a partir desta.
Avançou, reparando agora melhor nos objectos que faltavam: os quadros, as pequenas coisas pessoais, ou melhor, impessoais que o David fazia caso de ter, aqui e ali.Deu uma volta rápida ao apartamento, detendo-se em momentos, locais, nas memórias que ainda ali estavam.
Tentava compreender o porquê.
Sim, era indubitável que ele tinha quebrado as promessas que tinham feito de braços nus, com os corpos ainda ofegantes, enrolados um no outro, naquelas alturas em que o cheiro dele penetrava no seu e que se tornava impossível de distinguir.
Estupidamente queria pagar-se da mesma moeda. Procurou na mesinha de cabeceira o seu maço de tabaco que havia deixado há tanto tempo.Foi com um sorriso que acendeu um cigarro, ao mesmo tempo que via os olhos reprovadores dele, naquela mesma cama, com a mão nas suas costas nuas... Nem se lembrava bem das palavras que ele tinha dito, mas agora sabia bem que a tinha convencido a parar, talvez na promessa de mais uns momentos de prazer.
Foi com a primeira passa que veio a primeira lágrima. Não parrou na face, não molhou apenas o canto do olho... Em vez disso percorreu-a rapidamente, rolando por um caminho que conhecia bem.
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1 Comments:
niiiiiiiiiiiiiice! *inhos
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